O Pouco que nos Basta

Belo Horizonte, Brasil, 12 de agosto de 2011 -



Mico-Estrela - Callithix penicillataImagem: Hélvio/Jornal Pampulha.

  Ando estressada com os Micos que apareceram em minha casa. Enquanto pulavam de árvore em árvore, achava lindo. Agora que resolveram invadir a cozinha para roubar frutas, ou melhor, comê-las descaradamente em cima da mesa sem se importarem a mínima com nossa presença viraram um problema.
  Ontem tentei expulsar um deles - da goiaba e da cozinha -, e ele me encarou cheio de dentinhos afiados. Traumatizada por mordida de macaco, preferi me afastar. Peguei uma vassoura e ameacei tocá-lo de lá até vê-lo, tranquilamente, sair pela janela levando uma banana. Concordo que nessa hora quem levou a "banana" fui eu.
  - Você viu? Perguntei à cozinheira.
  - Vi. E se eu fosse você jogava o resto fora. Respondeu-me com cara de asco.
  Também por causa deles a Pretinha anda histérica. De manhã cedo, já começa a latir pros bichos, acordando a casa e atormentando os vizinhos. Tem Mico na Mangueira, no Flamboyant, subindo no telhado... E ela atrás, sem dar conta do recado. Quando se cansa de um, vai atrás de outro. No fim da tarde, exausta, deita-se escondida no sofá da sala e só se levanta na hora do jantar, quando, pulando e balançando o rabo, requisita sua parte da cesta.
  Resolvi fazer um "micódromo" no jardim, uma tábua pendurada nas árvores onde deixarei bananas, goiabas e frutas da época. Que nem fizemos na fazenda do Jaíba, onde até um vira-lata esperto sobe para comer, dividindo o espaço com Periquitos, passarinhos e uma infinidade de Maritacas. Assim, além de se afastarem da cozinha, os micos não correrão o risco de morrerem de fome. Exaltada, só mesmo a Pretinha corre o risco de "estressamento" máximo com essa história.
  Também as pombas, vindas sabe-se lá de onde, são um problema. Atrás da ração dos cachorros, não dão trégua. Além da sujeira que deixam no quintal, temo por doenças que porventura possam ter. Coloquei as vasilhinhas de ração dentro de casa até alguém me alertar de que isso pode atrair ratos. Odeio ratos!!!
  E lembro-me da história terrível contada por um amigo. Para se livrar dos ratos do sítio, adquiriu um pacotinho de chumbinho (veneno proibido e dos mais mortíferos). Os ratos comeram o veneno e os gatos da casa comeram os ratos. Final da história: morreram todos.
  Pior são os cupinzeiros, que, de uma hora para outra, resolveram dar as caras no gramado. Jogo remédio num buraco, eles aparecem em outro. E já nem sei mais o que fazer com aquelas "montanhanzinhas" do mal. Por causa dos cupins, perdi uma árvore inteira. E, se não ficar esperta, a casa também entra no cardápio. Fora esses pequenos contratempos, morar na Pampulha (Belo Horizonte/MG) é um privilégio. Nada como acordar com passarinhos cantando, cheiro de grama cortada, verduras frescas na horta e um Galo que, ao longe, nos desperta para o dia.
  Nas manhãs frias, poder sentar-se sob o sol observando borboletas; um Pica-Pau bicando árvores, e a gente ouvindo seu 'toc-toc'; formiguinhas minúsculas fazendo seu trabalho incessante, além do perfume das flores lilases dos muitos Manacás que plantamos no jardim. Enfim, ter a percepção do tão pouco que é necessário para que nossos dias se tornem mais felizes.

Laura Medioli - Colunista.


Fonte: Coluna Crônicas/Jornal Panpulha.